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Os sentidos da Paz
Em tempos de festas, comemorações, confraternizações, uma palavra se faz obrigatória comandando os abraços, os apertos de mão, telefonemas, etc.: A Paz!
Ela traduz um desejo que já ocupa o primeiro lugar nas intenções das pessoas em celebrações individuais ou sociais, até mesmo antes de: “Felicidades”.
A paz é hoje o bem mais precioso e o maestro que rege todos os outros acontecimentos que habitam o nosso mundo interno, o mundo da alma, que nos governa e impulsiona nossas realizações.
Na ausência dela, convivemos com uma revolução interna que nos rouba o bem-estar, induzindo pensamentos pessimistas, alterando a percepção da realidade, confundindo sentimentos e paralisando ações. O que se impõe é a sensação de incapacidade, gerando angustia que pode culminar com a queda da auto-estima e da própria vontade, impossibilitando o crescimento dos indivíduos intelectual e espiritualmente.
Pode-se imaginar um antídoto para isso?
Em verdade todos os nossos sentimentos e sensações têm profunda ligação com os órgãos dos sentidos e o mundo sensorial. Tudo que vemos, ouvimos, tocamos, experimentamos com o paladar, etc, têm um reflexo físico – constituição e vitalidade dos órgãos internos e também um reflexo anímico – produção de sensações e sentimentos de simpatia ou antipatia. Portanto os sentidos são as “antenas” que informam e, em certa medida, transformam, o nosso mundo interno – tudo que acontece dentro de nós: nosso modo de pensar, a qualidade daquilo que sentimos e a força para impulsionar nosso querer – nossa vontade de agir.
Se, desde pequenos, em nosso ambiente, no convívio diário com as pessoas, somos apresentados à coisas e atitudes belas e dignas, como cuidado e respeito pela natureza, animais e seres humanos, estaremos aprendendo essa relação pacificamente, o que será provavelmente internalizado como boa prática marcando valores e princípios, impregnando nossas atitudes ao longo de toda vida, desde a mais tenra infância.
Sabemos que somos nós adultos os responsáveis diretos pelo que é apresentado às crianças. Elas sugam como uma esponja, todas as informações que lhes são oferecidas via sentidos – as boas e as ruins: ambientes, cheiros, sons, gestos...
Modernamente, algumas áreas do conhecimento vão além dos cinco sentidos conhecidos – alguns já classificam vinte sentidos. Gostaríamos de apresentar a divisão proposta por Rudolf Steiner (1861-1925) que é de doze sentidos: quatro básicos, quatro intermediários e quatro superiores, já presentes desde o nascimento, porém ganhando desenvolvimento ao longo da vida, até culminar sua completude aos 21 anos.
Os quatro sentidos básicos se desenvolvem nos primeiros sete anos de vida – são diretamente influenciados pelos estímulos sensoriais oferecidos nessa época e podem marcar a alma positiva ou negativamente, fixando tendências potencialmente portadoras de paz ou de violência – por isso, precisam ser conhecidos e trabalhados em casa, na escola, de forma a constituir pilares firmes visando uma cultura abrangente para a paz, que primeiro, se configura internamente e, depois, orienta as atitudes externas – portanto, de dentro para fora.
Em nossos próximos encontros vamos clarear o que são os 12 sentidos, iniciando pelos quatro básicos: tato, vital, movimento e equilíbrio.
Por ora devemos ter em mente que crianças são a nossa relíquia; são os depositários do futuro da humanidade. Precisamos nos ocupar em cuidar da preservação da infância e da qualidade desta; sermos exemplo e aspirarmos a um mundo pacífico, concretizado em todas as nossas ações e relações, para que isso seja captado e reproduzido por elas.
Aproveitemos essa época de festas, potencialmente povoada pelo espírito da paz, para rever o que estamos oferecendo para os nossos filhos verem, ouvirem, tocarem, comerem, brincarem...
Revisitemos nossos próprios princípios – o que é genuíno em nós e o que é fruto de imposição da mídia ou da sociedade – exageros e complexidades em detrimento da simplicidade.
Cultivemos em nossos lares, em nosso trabalho, especialmente em nosso coração, um forte e irresistível desejo pela paz e esperemos que, como a pedrinha atirada num lago tranqüilo, esse desejo se amplie e cresça até os confins de todo o planeta.
Que 2010 seja prenhe de paz!
Refletir é preciso!
Dra. Elaine Marasca Garcia da Costa – Médica, Mestre em Educação – Autora do livro: “Saúde se Aprende, Educação é que Cura” - emarasca@splicenet.com.br
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