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ÉTICA HOJE: UTOPIA OU VANGUARDA?
Em meio ao turbilhão de incertezas geradas pelos movimentos
econômicos e sociais de nosso tempo, ressurge uma questão
que talvez devêssemos refletir para tentar compor um
novo leme na condução das práticas e
fazeres humanos. Estamos falando de um “propósito
de conduta” que organiza os indivíduos em sociedade
desde os tempos da Grécia antiga, atravessando todos
esses séculos, sofrendo mutações, mas
sobrevivendo, ainda que claudicante – a chamada Ética.
Todos nós, concordando ou discordando abraçamos
em liberdade ou necessidade, algum capitulo dessa imensa obra
que dita as práticas humanas.
Define-se Ética (do grego Ethos) por: aparato que designa
os costumes, o modo de agir, de sentir e de pensar dos povos
em todos os cantos do planeta. É a “sistematização”
do bem e do mal, do permitido e do proibido, do certo e do
errado com o objetivo de organizar as condutas e o bem viver
nas sociedades.
No inicio regia até sacrifícios humanos; em
algumas culturas ainda propõe a poligamia; o que é
o bem numa geografia pode ser o mal em outra e assim tivemos,
com as conquistas e dominações, um sem número
de códigos éticos dirigindo uma suposta ordem
das coisas e indivíduos de maneiras distintas segundo
suas crenças e saberes.
As profissões trataram também de organizar seus
códigos, rezando uma conduta ética condizente
com o exercício prático dessa ou daquela área.
Nesse sentido tornou-se célebre o código de
ética médica.
Ser ético teria a ver com virtude, com boas práticas,
com a busca do bem comum e especialmente da própria
Felicidade como propôs Aristóteles. Ele afirma
que esse caminho é passível de aprendizado e
aprimoramento mediante exercício e esforço.
(Ética a Nicômaco).
Em tempos atuais a revolução tecnológica
“bagunçou” literalmente esse conceito ao
introduzir temas como: clonagem, células tronco, transplantes
de órgãos, devastação das florestas,
alimentos transgênicos, poluição etc.
O que é uma postura verdadeiramente ética hoje?
Deveríamos assumir os conceitos de Platão, Aristóteles
ou Santo Agostinho sobre ética? Ou estamos mais para
Nietzsche, Freud, Foucault? Ou não há mais lugar
para essas teorias e temos que formular uma nova proposta
ética que corresponda aos nossos anseios e necessidades?
Ou ainda cabe uma mescla de tudo isso?
Platão discute que “é melhor sofrer uma
injustiça que praticá-la” (Górgias).
Revela que o bem é uma idéia, uma forma, que
é a base de tudo que é reto e belo (A República).
Para ele, conhecer o que é o bem, a quem chama de Sol
em O Mito da Caverna, tem forte influência nas condutas
éticas.
Santo Agostinho enaltece o livre arbítrio onde o pecado
seria o resultado da submissão da razão às
paixões.
Descartes fala de um “moral provisória”
enquanto a razão não conseguir estabelecer uma
ciência definitiva da Moral.
Nietzsche propõe a transvalorização da
“moral dos fracos” superando as limitações
humanas por meio do incentivo à sensibilidade e à
criatividade.
Freud, inaugurando a inconsciência, mostra que as ações
humanas não dependem totalmente do controle racional.
Foucault propõe uma “prática de si”,
ou seja, a constituição do individuo como sujeito
moral, trabalhando a auto-educação continuadamente.
Filósofos e filosofias se adequam, genericamente, a
seu espaço e a seu tempo.
O que poderíamos designar de ético hoje?
Seria simplesmente não fazer o mal? O que, ou quem
é o Mal real hoje?
Como procurar o “Sol” de Platão e nos aquecer
à luz do conhecimento para direcionar eticamente nossas
ações?
Supomos que em nossos tempos, ética tem a ver com humanização
e com uma profunda reflexão sobre si mesmo e as relações
(humanas) com os outros e com a natureza.
Como cada um de nós está se comportando frente
a esses novos desafios? Quem, ou o que dá sentido à
nossa existência? Vale a pena ser ético?
Em verdade, somos nós exemplos de ética para
nossos filhos? Como nos comportamos frente à pirataria,
ao respeito aos diferentes, ao meio ambiente?
Nossa atitude de consumo (alimentos, madeira, papel, plástico,
etc.) poderia modificar eficazmente estas atividades?
A realidade é que, em todas as categorias, as questões
éticas despertarão cada dia mais interesse e
será cada vez mais urgente discuti-las.
Mesmo sabendo que ainda não temos uma resposta única,
o importante é pelo menos colaborarmos com o desenvolvimento
de uma consciência ética.
Dra. Elaine Marasca Garcia da Costa é médica
Pneumologista com formação em Antroposofia/Biografia
Humana. Mestre em Ciências da Educação.
Docente/ coordenadora do curso de pós-graduação
- Antroposofia na Saúde na UNISO. Presidente da Liga
dos Usuários da Medicina e Terapias Antroposóficas.
Diretora Clínica do Lucas Terapeuticum Desenvolvimento
Humano
emarasca@splicenet.com.br
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