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O Castigo – Severidade ou violência?

“Não existe ação moral particular que não se refira à unidade de uma conduta moral, nem conduta moral que não implique a constituição de sis mesmo como sujeito moral. Há que se estabelecer formas de atividades sobre si – praticas sobre si (exercícios de auto-educação)”. (Focault, Michel. Vigiar e Punir (1975))

A questão da autoridade no mundo atual tem uma característica difícil de ser conceituada. Essa condição muitas vezes se remete à uma imagem ditatorial, impositiva, que lembra os costumes patriarcais cuja época se encontra irremediavelmente ultrapassada.
Porém, uma outra imagem de autoridade se faz necessária às crianças. É vital e até mesmo uma fonte de vigor físico, a presença de um adulto próximo (pais, tios, professores) no qual a criança pode se apoiar e admirar.
Autoridade é atitude que não é alcançada ou mantida com prescrições impositivas a qualquer custo, chegando às vezes ao imperativo dos castigos extremos, não raramente incluindo enérgicas intervenções físicas.
Rudolf Steiner (1861 – 1925) chama a atenção para que se observe com muito cuidado que as “faltas” de crianças e jovens que estão tendo um desenvolvimento sadio cometem, quase nunca tem raízes num propósito consciente, e sim, na falta de reflexão (característica desses períodos) em diversos graus.
Essa é a problemática a ser estudada. Para falta de reflexão, a terapia deveria ser, a busca dessa consciência.
Existe inúmeras teorias sobre os motivos para se castigar, porém, só se justifica se soubermos que, a partir disso, a consciência se ampliará a níveis não alcançados anteriormente (R. Steiner – palestra 01/02/1916).
Não nos referimos a atitudes impensadas, sob o domínio da cólera ou raiva, como uma bofetada ou outro castigo físico, seja imediato ou mesmo refreados e colocados em prática no dia seguinte sob o pretexto de estar com o “sangue frio”. Pancadas só serão sentidas como forma de crueldade, em qualquer contexto. Não se deve perder de vista que as crianças e jovens mais prejudicados pelo meio em que vivem são os que têm comportamento pior (lembremos que as crianças imitam tudo e todos). Quanto mais difícil for manter a disciplina em nossos dias, pais e professores precisam estar mais aptos a demonstrar verdadeira SEVERIDADE sem jamais suscitar outro sentimento nas crianças que não sela, no fundo de seu ser, seu desejo é sempre de ajudá-lo, educá-lo.
Atitudes intempestivas, especialmente com investidas físicas, às vezes são respostas às provocações incessantes de crianças e jovens exageradamente provocadores. Porém, ainda que sejam humanamente compreensíveis, elas podem traduzir uma reação proveniente de inabilidade ou de amor próprio ferido, isso não tem nenhum valor pedagógico, ao contrário, é extremamente prejudicial pois podem quebrar o vínculo que existia entre as duas pessoas em questão (pais, filhos, professores, alunos, etc.)
Em verdade, a vivência da autoridade é um caminho necessário para se atingir a liberdade – desde que essa autoridade possa ser considerada “autoridade amada”, mesmo que possam parecer boas razões para um castigo físico, tanto mais quanto maior é a criança, fere-lhe a honra, a sua dignidade humana. Este produz um dano que subsiste e corrói por anos a fio como uma ferida interna que custa a sarar. Esses efeitos, a longo prazo, são infinitamente mais importantes que o aparente êxito momentâneo do castigo. Pode reforçar lentamente as más tendências a que todos estamos sujeitos como a dissimulação e a hipocrisia.
Fatalmente, os castigos físicos, as surras recebidas na infância, despertam, diabólica e inexoravelmente a tendência de bater também.
É muitas vezes entre aqueles que foram “castigados” na sua infância, que se encontram adultos que praticam os mesmos castigos recebidos em seus filhos, alunos, etc.
Com o coração aberto e uma boa dose de vergonha, despertemos nossa consciência, nosso sentido de responsabilidade, nossa capacidade genial e humana de criar outros caminhos para resolução desses problemas, sem inércia ou preguiça.
Renovemos nossa energia decisória para encaminhar nossa atitude numa nova direção de auto-educação, compreendendo a natureza profunda dos efeitos dos castigos físicos. Em casos em que seu emprego seja inevitável, escolher castigos mais adequados, pedagógicos salutares, como: sujou – limpou; quebrou – conserta; ofendeu – se desculpe; trabalhos comunitários, privar-se de alguns prazeres, etc.
Não se deve esquecer que crianças têm sede de imagens e que os contos de fadas e as imagens mitológicas são extremamente importantes no sentido de pavimentarem um direcionamento sadio no desenvolvimento afetivo, o que preenchem possíveis lacunas na alma que assim seriam não seriam ocupadas por outras sensações. Ouvir histórias é altamente terapêutico.
Por fim, educação e auto-educação nunca terminam para seres humanos que tem a capacidade de amor como meta e verdadeiro sentido de suas vidas!
Refletir é preciso!

Fontes:
- Gabert, Eric. O castigo na auto-educação e educação da criança.
- Calgren, Frans. Klingborg, Arne. Educação para a liberdade – A Pedagogia de Rudolf Steiner.

Autora: Dra. Elaine Marasca Garcia da Costa – Médica pneumologista com formação em Medicina Antroposófica e Biografia Humana, mestre em Educação, autora do livro: “Saúde se Aprende, Educação é que Cura” - emarasca@splicenet.com.br

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