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MEDO – SENTIMENTO GLOBALIZADO
A abertura dos mercados e das sociedades derrubando suas fronteiras,
a chamada globalização, parece não ter
garantido um caminho para a harmonia e o desenvolvimento sadio,
tese inicial dos seus defensores. Há quem defenda que
esta seja até mesmo a causa dos conflitos e violências
subsidiando fanatismos e o próprio terrorismo.
Se existe algo realmente globalizado no mundo atual, essa
coisa se chama – Medo. Organizações, bolsas
de valores, todos em maior ou menor proporção
são, ora impulsionados, ora paralisados, pelo mesmo
processo – o Medo.
Investir ou não financeiramente ou num relacionamento,
numa pesquisa, na manutenção da justiça,
vale a pena? O que pode acontecer com os mercados futuros,
com as grandes potências, com os processos em geral?
A insegurança, companheira inseparável do medo
se generaliza dia a dia, ocupando todos os espaços
possíveis, abalando os alicerces individuais e sociais,
mesmo em culturas milenares que primavam pela solidez.
É um processo surdo, silencioso, sem rosto, não
se mostra, não se identifica, mas é quase palpável!
Está internalizado na grande maioria dos adultos do
mundo atual, gerando um sem número de atitudes, ansiedades,
desesperos, violências, doenças....
Quem não acreditava que o mundo interno “governa”
o mundo externo, nesse momento está com as “barbas
de molho”. Parece que o espaço humano destinado
ao SENTIR sofreu uma invasão desmedida e preencheu-se,
em grande parte, por um só sentimento – ele,
o medo. Sim, o medo não é algo que se pense,
nem que se deseje, é algo que se sente!
Será que, ficamos tão enfraquecidos em nossas
relações com os outros seres humanos e a própria
natureza, que fomos engolidos por esse gigante sem face que
se infiltra sorrateiramente na alma humana e começa
a lhe dar voz de comando tentando modificar, quiçá,
toda uma evolução construída até
aqui?
Onde estão os nossos valores conquistados a duras penas
com e apesar de todas as lutas e guerras que passamos?
O pior é que, para amenizar essa sensação
e seduzidos por uma indústria interessada em manter
esse estado de coisas, buscamos no consumo uma irreal válvula
de escape, que parece acalmar momentaneamente essas incertezas.
O poder do TER é mais imediato e exige menos reflexão
que o SER que precisa de tempo, de critica e autocrítica,
de educação e auto-educação; além
do que está em alta nos mercados mundiais, mesmo gerando
toda espécie de possibilidades recessivas nas maiores
economias.
Para Zygmunt Baunan, sociólogo e professor das Universidades
de Leeds e Varsóvia, o medo se dilui em todos os estratos
da sociedade, e o mais assustador é que: “não
temos, nem podemos ter, nenhuma certeza se ele é genuíno
ou imaginário”. Vivemos numa constante instabilidade
e incurável estado de medo por muitas coisas: no trabalho,
na falta de reconhecimento social, na fragilidade nos relacionamentos,
na ameaça de epidemias e à segurança
pessoal, nos alimentos contaminados, etc.
Tudo se torna assustador – inclusive a comunicação
da Organização Mundial da Saúde –
OMS que diz: a continuar nesse ritmo as pessoas não
conseguirão viver saudavelmente. Em 2100, 50% da população
mundial será de adictos (dependentes de drogas lícitas
ou ilícitas) e somente 20% será saudável,
apto a trabalhar, enquanto 80% dependerá da assistência
social. Essa premissa gerou inclusive um novo paradigma em
saúde: a SALUTOGÊNESE que prevê maiores
investimentos em pesquisas para gerar, promover e manter a
saúde e não apenas curar doenças.O tempo
urge. O gigante está aí! O que vamos fazer?
Correr? Deixar-se dominar? Quem tem o papel de tentar despertar
os homens para esse levante!?
Consciência é coisa rara e coragem muito mais
– porém sem um pouco de esforço de cada
um, em todos os âmbitos da sociedade, corremos o risco
de sermos engolidos por um monstro que até pode ser
IMAGINÁRIO, mas poderia também ser produto de
nossa própria alienação.
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