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A culpa – prima do medo, vizinha da vergonha!

Requisitada a trabalhar esse tema em uma grande empresa, onde um número de nascimentos num determinado departamento exigia uma compreensão de como equacionar trabalho e cuidados com os filhos (a grande maioria, primeiros filhos), pus-me a pesquisar conceitos, observações e atitudes sobre esse pesado sentimento que atinge a todo ser humano – a culpa!
Lendo vários autores entre psicólogos, psiquiatras, sociólogos, cada um exibindo suas convicções, percebi, que havia unanimidade em um sentido: culpa é um sentimento exclusivamente humano. Não há animal que se sinta culpado.
Uma outra questão que pude constatar é a proximidade deste, com o sentimento de vergonha e um outro sentimento, seu parente bem próximo e bem conhecido – o medo.
A culpa, em vários momentos, mescla-se ora tomando os tons do medo, ora da vergonha, nos jogando de um lado para outro, atraindo uma tristeza, uma sensação de incapacidade e limitação que turva nossas reações e impede o desenvolvimento de ações coerentes e equilibradas.
O medo, em sua conceituação mais atual, não nos serve apenas como um instinto de fuga como diziam os antigos psicólogos baseados nas teorias Darwinistas onde a idéia predominante era: “todas as emoções são uma espécie de resíduo mental de condições pela luta evolutiva” (DarwinC, The Expression of the emotions in Man and animal, London, 1877).
Podemos dizer que, emoções como o medo são também “conselheiras” do nosso EU em situações estranhas e inesperadas. São avisos que advertem, chamam nossa atenção e tornam conscientes, condições sobre as quais não havíamos nos dado conta. Aparece nas mais variadas formas construindo posturas normais ou patológicas, podendo acrescentar nuances atenuantes ou agravantes à sua conhecida “prima” – a culpa.
Fisiologicamente, o medo nos arrepia, trememos, suamos, batemos os dentes, empalidecemos, aparece a taquicardia, rigidez e tensão. Nem sempre há intensão de fugir mesmo porque, por vezes, o pavor é paralizante. Aparentemente surge uma força que quer nos agarrar e esmagar todo nosso corpo até a nossa alma!
Já o sentimento de vergonha produz uma fisiologia oposta: ao invés da palidez, aparece o rubor que faz corar desde o rosto, pescoço até o tórax; o sangue vem à superfície do corpo como que esvaziando nosso íntimo; nos tornamos confusos, gaguejamos, titubeamos e nos cobrimos, como se algo de nós fosse desnudado. De fato, a vergonha historicamente, desde Adão e Eva tem relação com a nudez – não só a nudez física, como também a exposição pública de algo muito íntimo, um traço de caráter ou uma atitude.
AndersC., (Die Antiquiertheit des Menschanm Munchen, 1956) refere-se à vergonha como: “um evento no qual o homem é confrontado por uma “ corte superior” que lhe revela algo que ele não quer ser, mas que inevitavelmente, é condenado a ser”. Por exemplo, o corcunda que sente-se envergonhado por ter sua corcunda exposta publicamente – ou seja, ser o que é.
O sentimento de culpa também nos retrai e exibe nossas impossibilidades e incompetências, porém existe aí uma profundidade maior do que a mera exposição como na vergonha. Constatamos na culpa, uma experiência mais íntima, que percorre o fundo da alma com pouco ou nenhum sinal exterior, como corar-se. Parece ter mesmo uma qualidade moral! É algo que se cala no recôndito de nosso ser, que parece apontar para nós como um juiz implacável que diz: você é culpado!
Em presença desses sentimentos passamos a buscar maneiras de lidar com o “impossível”.
É como se quiséssemos fazer duas coisas ao mesmo tempo: no caso das mães por exemplo, ficar com o filho o dia todo e ser diretora de uma empresa. Assim como descrevi, a vergonha expõe uma incapacidade real – ninguém pode estar em dois lugares ao mesmo tempo! Por outro lado isso gera culpa – que é sentida como uma incapacidade moral ou seja: como posso estar trabalhando se deveria estar sendo mãe!? Esse antagonismo é devastador e desvitalizante.
Vale lembrar ainda um outro aspecto da culpa: a auto-proteção. Algumas pessoas se martirizam com a culpa, se indagando por exemplo: e se eu não for boa mãe? O que as pessoas, meu próprio filho e a sociedade irão dizer, ou como me cobrarão no futuro? Ou ainda: será que, se eu disser um não, terei o mesmo amor e a admiração de minha família, meus amigos, meu chefe? Então essa pessoa passa a agir, não em conformidade com sua verdade, mas imaginando o que os outros querem que ela seja ou faça, tornando sua vida um mundo de obrigações para não se sentir culpada. Sem nenhum prazer, se amargurando com sua própria falsidade, não percebe que toda direção de suas ações está voltada para si mesma, se auto-protegendo numa atitude equivocada que lhe rouba a própria identidade. Não está realizando atos amorosos. O amor é educador e portador da verdade cujas atitudes exigem sim e não. A culpa, ao contrário tem a tendência de sempre dizer sim!
Jocosamente, dizemos ser a culpa “prima” do medo e “vizinha” da vergonha, por se entrelaçar constantemente com esses dois sentimentos.
Trocadilhos à parte, a culpa é inerente à condição humana e sua compreensão e lapidação é passível de incrementar o desenvolvimento humano rumo à integralidade.
Refletir é preciso!

Dra. Elaine Marasca Garcia da Costa – Médica, Mestre em Educação – Autora do livro: “Saúde se Aprende, Educação é que Cura”!.

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