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RESPIRAÇÃO – VELOCÍMETRO
DA ALMA
Não há quem duvide da grandeza e da magnitude
do processo de respirar para a sobrevivência do ser
humano.
A respiração vai muito além das meras
trocas gasosas de oxigênio por gás carbônico
– esta é apenas uma das etapas que constituem
esse meticuloso estado responsável pela preservação
da vida – sim, ela “instala” a vida no ser
humano – ao nascimento com a 1ª inspiração
e “recolhe” a vida, no momento da morte, com a
última expiração. Pela respiração
entramos e saímos do mundo terreno! Se observarmos
as três etapas do processo respiratório: inspiração
(o2) – troca (sangue) – expiração
(Co2), podemos imaginar que o processo de vida e morte se
repetem continuamente indicando que a nossa vida também
teria o caráter de uma grande respiração:
começa com inspiração e termina com expiração
e tudo que acontece entre o 1º e o último movimento
são as “trocas”! A respiração
é a maneira que o homem tem de manter o contato do
seu mundo interno com o mundo externo – e é isso
que o mantém vivo! O fato de ele poder se relacionar
(trocar) com a natureza e os outros seres vivos é condição
sinequanon para a vida e para um desenvolvimento caracteristicamente
humano!
Explico: todos nós temos um mundo interno, ou seja,
uma alma que nos dá a capacidade de Pensar, de Sentir
e de Agir – só nós conhecemos e dominamos
este mundo que é singular, único para cada um.
Porém ele só tem razão de ser e de evoluir
se encontrar-se, confrontar-se, relacionar-se com o mundo
que está fora de nós – os outros seres,
a natureza, os acontecimentos, o clima etc. É nesse
processo que todos nós nos desenvolvemos e elevamos
a nossa própria condição humana! É
daquilo que entra em nós do mundo externo que podemos
elaborar “diálogos internos”, que depois
se exteriorizam novamente para compor o mundo externo, impregnado
de uma parte de cada um.
Podemos supor então que o ar, representante do mundo
externo, se compõe de um pouco de cada um de nós
e um pouco de tudo que existe na natureza, desde os elementos
visíveis, ponderáveis até os mais imponderáveis
demandados pelas esferas cósmicas. Isso tudo a que
chamamos Mundo Externo, penetra no ser humano de maneira mais
ou menos profunda, segundo um consentimento e uma preparação
de cada um, e está traduzido claramente no modo como
cada pessoa respira!
Se tivermos abertura, liberdade e coragem para receber o mundo
externo, nossa inspiração é grande, ampla,
profunda; se tivermos insegurança, ansiedade, medo
de contato,essa inspiração se encurta, fica
superficial não conseguindo preencher 100% dos pulmões.
Essa condição obriga a pessoa a respirar mais
vezes para compensar as necessidades gasosas e, portanto essa
respiração se torna mais rápida. Isso
dificulta fisicamente uma boa oxigenação e,
ao mesmo tempo, impede uma verdadeira percepção
desse mundo externo, o que produz uma sensação
anímica desagradável como uma incapacidade de
lidar com as coisas práticas, reais, levando esses
indivíduos a viverem num mundo fictício, com
muita dificuldade de viver no presente – com tendência
a idéias fixas, repetições – característica
dos ansiosos. Algo semelhante, porém de modo inverso,
pode acontecer com a expiração. Alguns indivíduos
recebem o ar de maneira razoavelmente normal, mas são
incapazes de soltar completamente aquela porção
de si que está injetada obrigatoriamente no ar expirado.
São pessoas com dificuldades de doar-se em todos os
sentidos; guardam muitas coisas, tem muitas dificuldades para
mudanças tendendo ao conservadorismo – é
característico esse comportamento nos asmáticos,
onde a dificuldade é a saída do ar (expiração)
facilmente observada numa crise asmática, onde o indivíduo
parece ter que “soprar”, ou seja, fazer força
para soltar o ar que deveria seguir um caminho passivo. Nesse
ponto o leitor já terá condições
de perceber que a respiração saudável
em repouso, deverá reger um movimento de entrada e
saída de ar num ritmo oscilante e harmônico apenas
semiconsciente, e sem esforço algum.
Será capaz de intuir que quando o ritmo respiratório
acelerar, assim também se encontrará o nosso
mundo interno (alma) num susto ou medo extremo, por exemplo,
e que quando dormimos esse ritmo, deverá ser mais lento.
A respiração evidencia uma parte da alma e participa
como causa ou conseqüência em muitas patologias,
especialmente aquelas onde está dificultado o contato
com o presente.
A cura desses processos deverá incluir obrigatoriamente
um trabalho com a própria respiração
para que esta alcance uma maior profundidade, um ritmo mais
harmonioso, trazendo novamente a sensação de
pertencimento ao mundo terreno e a re-conexão com o
tempo real e com o presente.
Fica implícito então, o vinculo que a respiração
tem diretamente com o nosso mundo interno, aquele que nos
guia que nos anima e que, em última análise,
detém o controle que regulamenta a velocidade –
ora acelerando, ora desacelerando todo processo respiratório.
Dizemos que através da respiração temos
idéia do que acontece no mundo interior, ou na alma
de uma pessoa podendo mesmo assumir uma característica
como se fora o seu próprio velocímetro. Essa
é uma poderosa ferramenta para médicos e terapeutas
que ao observarem atentamente as características respiratórias,
certamente terão boas informações sobre
o funcionamento do mundo interno e de seus pacientes.
Dra. Elaine Marasca Garcia da Costa é médica
Pneumologista com formação em Antroposofia/Biografia
Humana. Mestre em Ciências da Educação.
Docente/ coordenadora do curso de pós-graduação
- Antroposofia na Saúde na UNISO.
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